terça-feira, 30 de junho de 2009

Maya

Numa ilha tropical, ao redor de uma mesa, nove pessoas conversam sobre sua visão do mundo:

Chegou a vez de Laura, que não escondeu que grande parte da inspiração para sua visão do mundo era alimentada pela filosofia hindu, sobretudo pelas seis escolas ortodoxas chamadas vedanta, melhor dizendo, keval-advaita, expressão que vinha do filósofo Shankara, que viveu na índia no início do século ix. Keval-advaita significa "não-dualismo absoluto", esclareceu Laura. Proclamou que só existe uma realidade e que os hindus a batizaram de brahman ou mahatma, que significa "alma universal" ou, numa tradução mais direta, "a grande alma". Brahman era eterno, indivisível e imaterial. Desse modo, todas as perguntas feitas por John receberam resposta, e apenas uma resposta, já que brahman era a resposta a todas as perguntas feitas.

- Deus nos livre, Laura - suspirou Bill, que havia sustentado um otimismo científico bastante ingênuo.

Mas Laura não se alterou. Explicou que toda pluralidade não passava de aparência. Quando no dia-a-dia percebemos o mundo como algo variado e plural, isso se deve unicamente a uma miragem, falou, ou ao que os hindus durante milhares de anos vêm chamando de maya. Porque não é o mundo exterior, visível e material que é real. Esse mundo não passa de uma ilusão onírica, e certamente real para os que estão presos em sua rede. Mas, para o sábio, o mundo real é brahman, a alma universal. A alma humana é idêntica ao brahman, explicou, e quando entendemos isso, desaparece a ilusão da realidade exterior. Então a alma se toma brahman, o que na realidade sempre foi, mas sem que soubéssemos.

- Ela disse a última palavra - afirmou John. - O mundo exterior não existe, e toda pluralidade não passa de aparência.

Laura não se perturbou. Afagou as trancas negras e com um sorriso zombeteiro lançou um olhar para todos, enquanto prosseguia em suas explicações.

- Quando você sonha, acha que percebe uma realidade plural e que você se encontra num mundo exterior. Mas tudo o que há no mundo mágico do sonho foi gerado por nossa alma e nada mais. O problema é que você não nota isso enquanto não desperta, e aí o sonho já não existe. Você se desprendeu de todas as máscaras falsas e aparece como o que foi o tempo todo: você mesmo.

- Eu não conhecia essa teoria - admitiu o moderador -, mas ela é fascinante e radical. Pelo menos é quase impossível refutá-la com provas...

Refletiu um instante e acrescentou:

- Você falou em maya, ou estou enganado?

Ela assentiu, e o inglês olhou para Ana, que estava sentada à sua direita. Percebi que ela baixou os olhos, enquanto José lhe passava o braço em tomo dos ombros, apertando-a contra si.

- Cremos que somos nove almas sentadas em tomo de uma mesa - precisou Laura. - Isso se deve a maya. Na realidade, somos facetas da mesma alma. E a ilusão maya que nos faz crer que os outros são distintos de nós, por isso não devemos ter medo da morte. Não existe nada que possa morrer. A única coisa que desaparece quando morremos é a ilusão de estarmos separados do resto do mundo, da mesma maneira que pensamos que o que sonhamos está separado da nossa alma.

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Ligações externas:

http://pt.shvoong.com/humanities/religious-studies/1099886-ilusão-maya/
http://www.casadobruxo.com.br/religa/hinduismo.htm


Ligações internas:

Veja o post anterior aqui no blog chamado "What is real":
http://ocuringa.blogspot.com/2009/06/what-is-real.html


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