segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Antoine de Saint-Exupéry já dizia...

"O quarto planeta era o do empresário
Falava ele:
- Doze e três, quinze.
- Bom dia.
Aquele homem estava tão ocupado que nem sequer levantou a cabeça à chegada do pequeno príncipe.
- Quinze e sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito.
- Teu cigarro está apagado.
- Não tenho tempo para acendê-lo de novo. Vinte e seis e cinco, trinta e um. Ufa! São quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta e um. - Concluiu o empresário.
- Quinhentos milhões de quê?
- Hein? Ainda está aí? Quinhentos e um milhões de... não sei mais. Tenho muito trabalho! Sou um sujeiro sério, não me preocupo com futilidades! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de quê? - insistiu o pequeno príncipe.
- Há cinquenta e quatro anos habito este planeta e só fui incomodado três vezes. A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro que fazia um barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, quando tive uma crise de reumatismo. Por falta de exercícios. A terceira... é esta! Eu dizia, quinhentos e um milhões...
- Milhões de quê??
- Milhões dessas coisas que às vezes vemos no céu!
- Moscas?
- Não, não! Essas coisas douradas que fazem os preguiçosos sonhar. Mas sou uma pessoa séria. Não tenho tempo para divagações.
- Ah! Estrelas.
- Isso mesmo. Estrelas. Quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e duas mil, setecentos e trinta e uma. Sou um sujeito sério. Gosto de exatidão.
- E que fazes com essas estrelas?
- Nada. Eu as possuo.
- E isso serve para quê?
- Para ser rico.
- Eu já vi um rei que....
- Nada a ver! Os reis não possuem. Eles "reinam" sobre. É muito diferente.
- E para que te serve ser rico?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
"Esse aí raciocina um pouco como o bêbado", pensou o pequeno príncipe.
- Como é possível possuir as estrelas?
- De quem são elas? - perguntou o empresário.
- De ninguém.
- Logo, são minhas, pois pensei nisso primeiro.
- Basta isso?
- Sem dúvida.
- Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma idéia antes dos outros, tu a registras: ela é tua. Portanto, possuo as estrelas, pois ninguém antes de mim teve a idéia de as possuir. - conclui o homem sério.
- Isso é verdade.
- E que fazes com elas?
- Administro-as. Eu as conto e reconto. É um trabalho sério.
- Se possuo um lenço de seda, posso amarrá-lo em volta do meu pescoço e levá-lo comigo. Se possuo uma flor, posso colhê-la e levá-la comigo, Mas tu não podes levar as estrelas.
- Não. Mas posso colocá-las no banco.
- Que quer dizer com isso?
- Escrevo num pedaço de papel o número de estrelas que possuo. Depois tranco o papel à chave numa gaveta.
- E isso basta?
- Claro.
- É divertido. É bastante poético, mas sem muita utilidade. Já eu possuo uma flor que rego todos os dias e três vulcões que revolvo toda semana. É útil para os vulcões, é útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil para as estrelas."


As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.